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BIOGRAFIA

Um dia destes recebi um e.mail de uma pessoa a quem não conhecia, e que pessoalmente continuo não conhecendo, onde entre outras gentilezas me desfila uma pequena biografia do Gouvêa Lemos.
Aceitei a sugestão do mesmo de aqui colocar um texto biográfico para pontuar o momento histórico das crónicas apresentadas neste blogue. Acabei então por  decidir em colocar exatamente a sua correspondência e ainda a que lhe respondi. Desta forma fica aqui representada uma biografia informal, mas com muito conteúdo, em forma de uma pequena homenagem ao Pai e Jornalista Gouvêa Lemos e também como agradecimento ao Carlos Aragão.



Em 18 de maio de 2011 17:31, Carlos Aragao <...@tvcabo.co.mz> escreveu:
Caro Zé Paulo,
Cidadão do Mundo

1-Votos de muita saúde para Si e para os seus.
2-Primeiramente desejo dar-lhe os meus parabéns (ou de lhe parabenizar como se diz no modo de falar o Português no Brasil que com o advento da Lusofonia passou a integrar também o léxico das antigas colónias portuguesas deixando de ser considerado “brasileirismo") pela excelente iniciativa que teve de reunir a informação rica e diversificada existente em vários suportes documentais sobre a Vida e Obra de seu Pai que foi um dos grandes jornalistas moçambicanos. A classificação de Luso-Moçambicano parece ser um tanto forçada já que ele próprio de assumia como Moçambicano (embora não natural de Moçambique mas originário da Metrópole -ou do rectângulo ibérico como mais tarde os geopoliticos escreveram).
Nessa altura em Moçambique os meios eram escassos, “informar era preciso mas formar o cidadão era igualmente preciso” mas tendo sempre em atenção de que todo o escrito que visse a luz da publicidade era redigido tendo em conta a omnipresente, maldosa e pérfida Censura (o Exame Prévio à imprensa escrita e aos espectáculos públicos).
Aliás o Ze Paulo viveu no Brasil e conheceu certamente a clima que se vivia sob a Ditadura do Golpe de 64.
Publicar sem passar as provas pelo Exame Prévio era impensável já que daria direito a supressão imediata do órgão de informação.
A obra de seu Pai está dispersa por vários órgãos de informação. Até pela Rádio onde ouvíamos a gravação da sua voz nas suas Cartas da Beira que – mais tarde – o mensário  Revista do Rádio Clube de Moçambique publicava. A distribuição desta revista era gratuita. Pagava-se a Taxa de Radiodifusão aos CTT – Correios Telegráfos e Telefones (que na gíria se dizia CTT –Continua Tudo Torto, porque funcionava mal dada as circunstâncias).
3-Cheguei ao seu site através do mas-chamba. Este ultimo lista o nome de seu Pai como homem de imprensa. Depois de quase quarenta anos deparei-me com essa referência e resolvi começar a investigar.
4-Concluí uma primeira leitura do material impresso. Ouvi a entrevista ao Rádio Clube de Moçambique (antigo Grémio dos Radiófilos uma vez que a Rádio Moçambique é criação do pós-Independência de 1975. Hoje é Empresa Publica).
5-Em 72 (setenta e dois) quando nos chegou a noticia do falecimento do homem de letras que foi Gouvea Lemos por motivo de doença no Brasil encontrava-me fora de Moçambique na tropa.
Soube-se através de jornais que familiares nos enviavam de entre os quais figurava o mensário A Voz de Moçambique.

Muito raramente se lia o Notícias da Beira.
O meu tio já falecido era um beirense ferrenho que acreditava no lema de “Beira -a Cidade do Futuro” ficava fulo quando havia quem comparasse o NB a uma “folha de couve” (no sentido de que dizia sempre a mesma coisa -não havia nada de novo sob o Sol) comparativamente com o Noticias que seguia de avião e podia ser levantado a meio da tarde.
A VM foi editada entre os finais dos anos 50 e 1975 por homens de imprensa e carolas reunidos em torno da ANM – Associação dos Naturais de Moçambique – e era o Órgão da mesma – agremiação extinta no pós-Independência com o desmantelamento pelo Estado Monopartidário das chamadas “casas e agremiações regionais”.
Hoje a sede da ANM é um edifício meio em ruínas sito na Av. 24 de Julho.
6-O meu velho era leitor assíduo de vários jornais.
Ele teve de deixar de estudar no Liceu 5 Outubro aos 13-14 anos para ir trabalhar como paquete após o falecimento do nosso Avô – era o mais velho de muitos irmãos e a Mãe doméstica, situação idêntica a de milhares de famílias de trabalhadores de então – transformando-se num autodidacta puro (foi-se formando através das vicissitudes da Universidade da Vida).
Em resultado decorrente dessa situação nos seus tempos livres lia tudo o que lhe passava pela frente. Era assinante de vários jornais de entre os quais o VM. Depois de lê-lo repassava-os. E debatia-se.
Por outro lado estudava as matérias da profissão já que não havia Promoções senão mediante Provas através Concurso Interno (Provas –não havia “colher de chá”)
Do que aprendi do meu velho, de alguns dos seus apontamentos e do que então se sabia na Colónia de Moçambique (depois Província Ultramarina e finalmente Estado mas sem o ser) e de conhecimentos de cultura geral, eis algumas achegas/dicas para o seu blog:
I-Cronologia da passagem de Gouvêa Lemos pela dimensão terrena
Ajudaria bastante ao leitor não familiarizado ou não muito familiarizado com Gouvêa Lemos que muito antes da apresentação dos textos propriamente ditos (produção intelectual ou literária da lavra de Gouvêa Lemos) fosse colocada uma breve balizagem Cronológica.
Objectivo: Daria melhor enquadramento às vertentes e à época histórica em que em Moçambique se fez a intervenção de seu Pai.

Na Soalpo, em 49.
Gouvêa Lemos refere na 1ª parte da entrevista ao RCM que veio em 1949 (quarenta e nove) de Portugal para Moçambique e se instalou na cidade de Chimoio, Manica (antiga Vila Pery antes era Pery de Linde) como contabilista passando depois de colaborador de jornais para integrar o quadro do Noticias da Beira/Beira News bilingue cujo director era Vítor Gomes (antigo funcionário da Beira-Railways a concessionária do caminho de ferro Beira-Mutare (antiga Umtali) na altura da majestática Companhia de Moçambique.
Vítor Gomes seria depois sucedido pelo Dr. João Afonso dos Santos que se notabilizou num caso jurídico célebre de então que foi o Julgamento em 1972 dos Padres Católicos da Igreja do Macúti por em dia de cerimónia do Corpo de Escutas terem recusado a entrada da Bandeira Nacional no templo.
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Gouvêa Lemos e a sua
companheira Madalena
em 1957, no Rio de Janeiro.
Porém, a ideia que se tinha era de que Gouvêa Lemos teria vindo para Moçambique em finais de 50 oriundo do Brasil (corresponde - soube-o apenas agora - à 1ª fase da estadia de seu Pai no Brasil 1955/57).
E que ao Brasil teria regressado em 1972 (talvez devido à afeição que ele sentia pelo Brasil na dicotoma complementar “ser-se muito brasileiro…e por demais moçambicano”).
Depois de seu Pai ter deixar para trás o Projecto do Noticias da Beira o jornal teve existência difícil –aliás Gouvea Lemos era homem de fibra e deveria ter-se apercebido disso - devido a divergências entre a Direcção do NB sob comando do Engº Jardim (industrial influente conotado com o Estado Novo e com uma Independência que não passasse pela Autodeterminação) e os administradores nomeados pelo Banco Nacional Ultramarino ( BNU).
O Colonial-capitalismo estava no seu auge. E a Guerra Colonial também através de massacres pela tropa, pela DGS, pelas tropas da Rhodesia do Sul de população indefesa como aconteceram em Tete, em Sofala (Mucumbura). Teve muitas repercussões o Relatório que foi apresentado pelo Padre católico Adrian Hastings sobre o Massacre de Wiriyamu (portugueses haviam mudado a grafia para Uliamo) cometido pela tropa em finais de 1972 e com o objectivo de afrontar directamente o Governo de Caetano. O Relatório foi publicado em Londres em Janeiro de 1974. Em Abril desse mesmo ano os militares fizeram eclodir o Golpe que acabou com a ditadura e com o regime do Estado Novo.
II-Seu Pai integrou a equipa fundadora da Tribuna
Infelizmente em nenhum local se pode ler isso.
Só se aborda a produção intelectual divulgada através do Jornal.
Modéstia à parte da vossa Família?
Gouvêa Lemos e Vieira Simões
em 1972.
Seu Pai integrou nos 60 a equipa fundadora (hoje diríamos o “núcleo duro” ou “core team”) do diário Tribuna como deve saber.
Em 1960, creio que nas instalações da Livraria e Discoteca Poliarte (fundada pelos Prof. João Branco e João Correia dos Reis que trabalhava no LM Guardian mais tarde Diário de Moçambique) começou a reunir-se um grupo de intelectuais da época de entre os quais – para além dos donos da loja – o Engº Eugénio Lisboa, Rui Knopfli, Vieira Simões (antigo subchefe de Redacção do Notícias),  Gouvêa Lemos (na altura chefe de Redacção do Notícias da Tarde) Ilídio Rocha (antigo subchefe de Redacção do Notícias e do Diário) visando a criação de um novo jornal diário.
Esse jornal deveria ter uma abordagem de tratamento da realidade totalmente diferente da linha editorial dos órgãos de informação dessa altura.
Depois de várias discussões chegou-se ao título de A Tribuna.
No Arquivo Histórico encontra-se o numero um que tem a data de 5 Out. 1962 (sessenta e dois). A última edição foi em Março 1963.
Director da Tribuna era Dr. Mittermayer Madureira (a Lei de Imprensa de João Belo impunha que o Director só poderia ser um Licenciado ou a tal equiparado) e o Subdirector era Gouvêa Lemos (posição que gerou muitos cabelos brancos a que o Ricardo Rangel se refere na entrevista concedida ao Rádio Clube de Moçambique em 1972)
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Gouvêa Lemos e Ricardo Rangel
Em 1971/72
Um dos grandes dinamizadores da formação de candidatos a jornalistas foi precisamente Gouvêa Lemos (O Ricardo Rangel na refere que seu Pai andava sempre com o Manual do Repórter que deverá ter trazido do Brasil da época do estágio profissional de 1955/57).
O surgimento da Tribuna, a vertente de abordagem e os temas tratados (estávamos em 1960 – inicio da Guerra Colonial em Angola e da queda do Império Colonial português no Industão) começou a deixar preocupada a União Nacional (partido da situação – Estado Novo de Oliveira Salazar) e - naturalmente - a Censura e a Policia Politica (PIDE, depois DGS).
III-Gouvêa Lemos deixa o Projecto de A Tribuna
O que terá acontecido? Infelizmente também há poucas referências directas.
Talvez pelas más recordações do sofrimento e das necessidades que a Família se viu forçada a passar com a saída da Tribuna do Pai que assegurava o sustento da Casa.
Ilídio José da Rocha relatou que durante a visita a Moçambique em Março 1963 do Dr. António Castro Fernandes Vice-Presidente da União Nacional (mais tarde Acção Nacional Popular) e Vice-Governador do BNU Banco Nacional Ultramarino (banco emissor em cinco colónias de entre as quais Moçambique sendo seu Governador Francisco Vieira Machado, antigo Ministro das Colónias de Oliveira Salazar) parece que o sócio-fundador João Reis:
Ter-se-à aproveitado das folgas de Gouvêa Lemos e da ausência do próprio Ilídio Rocha;
E –vai daí – terá redigido e mandado publicar um editorial no Tribuna bajulando o referido Casto Fernandes.
Como reacção imediata Gouvêa Lemos e parte de elementos da Redacção abandonaram o jornal no mesmo dia.
Os restantes colaboradores seguiram-se nas semanas seguintes.
O Projecto de A Tribuna tivera uma existência fugaz de cerca de seis meses.
Dá para entender o que Engº Eugénio Lisboa quis transmitir nas entrelinhas durante a entrevista ao RCM:
"(……………) Gouvêa Lemos era tão pouco acomodatício na vida e pagou pelas suas convicções profundas”.
Semanas depois o BNU comprava a Tribuna ao accionista maioritário (João Reis) repassando-o para o controlo da União Nacional que nomeou um Director e um novo corpo redactorial.
Segundo Ilídio Rocha era o começo da estatização da Imprensa de Moçambique.
Entre 1966/69 a Tribuna passou a semanário. Em finais de 1969 reapareceu como diário vespertino (substituindo o Notícias da Tarde).
João Reis (associado a Bernardo) voltaria a editar um semanário que era publicado aos Domingos intitulado de “O Jornal” entre 1966/73 com uma impressão de muito fraca qualidade (muito rudimentar).
IV-Seu Pai foi impulsionador da renovação da Voz de Moçambique
A Associação dos Naturais de Moçambique em 1959 (cinquenta e nove) iniciou a publicação do semanário A Voz de Moçambique.
Em 1963 a VM viria a receber uma grande impulso (grande input como diríamos modernamente hoje usando um anglicismo) em termos de qualidade de temáticas e de conteúdos por parte de jornalistas e colaboradores que haviam deixado a Tribuna de entre os quais Adrião Rodrigues, Engº Eugénio Lisboa, Fernando Magalhães e o escritor Rui Knopfli.
Em 1966 trocaria a VM para o Noticias da Beira segundo se depreende da informação contida no seu Blog.
De entre os reforços em termos de colaboradores que entraram para a VM contava-se precisamente o seu Pai que tentou dar um impulso – sob ponto de vista técnico – ao jornal com o apoio gráfico de Garizo do Carmo transportando para a VM o entusiasmo editorial que orientou o Projecto de A Tribuna. Com o tempo a equipa redactorial acabou-se dispersando e face às dificuldades sucessivas a ANM passou para o controlo de uma Comissão Administrativa e o semanário passou a mensário mas mantendo a edição até 1975.
V-Seu Pai foi impulsionador da Economia de Moçambique
O mensário Economia de Moçambique era uma publicação especializada dedicada a Economia e Finanças vendida mediante assinatura, disponível nalgumas livrarias e nas salas de leitura das Bibliotecas Municipal e Nacional que começou a ser publicada em 1963 e terminou em 1974.
Ilídio Rocha que ali trabalhou como jornalista e chegou a subdirector (O Director era o Dr. Oliveira Marques, economista, mais tarde Administrador do BNU) referia que foi pela mão de Gouvêa Lemos que ele se iniciou no jornalismo económico em finais de 1963 (Rocha refere essa informação na ultima edição do mensário Industria de Moçambique editado pela extinta Associação Industrial de Moçambique).
Nessa altura a Economia de Moçambique era uma empresa editorial pertencente à Diocese da Beira.
Segundo Rocha a Economia de Moçambique foi comprada em 1971 (setenta e um) pelo Grupo industrial de António Champallimaud no âmbito da estratégia de assalto à exploração do Gás Natural de Pande (que o Ze Paulo podia ver da Beira a arder nas noite de visibilidade) numa “orquestração a três instrumentos” (hoje diríamos tripartida ou em três vertentes) compra dos três títulos Noticias da Beira, Jornal de Comercio e Economia de Moçambique – através do homem pivot (charneira) que era o Engº Jorge Jardim, industrial muito influente.
Rocha assegura que foi o BNU que proporcionou ao Engº Jardim os capitais de que ele necessitava para comprar quer a Economia de Moçambique, quer o Diário de Moçambique bem como a sua participação no Noticias da Beira.
Após a compra da Economia de Moçambique, Rocha foi substituído pelo Dr. Miguel Murupa dissidente da Frente de Libertação de Moçambique (Movimento de Libertação) que se havia entregado às autoridades portuguesas e ali foi colocado como Director.
VI-Gouvêa Lemos foi um notável escritor
É indubitável.
O testemunho está disperso por todas as actividades profissionais em que ele participou como Homem de letras e Homem de Imprensa. O seu Blog é prova comprovada disso.
Uma nota curiosa final: o Engº Eugénio Lisboa referindo-se ao seu Pai na 2ª parte da entrevista dada ao Rádio Clube de Moçambique (por volta do minuto 2,09) diz claramente o seguinte para quem o quis ouvir: “ Era um escritor genuíno” (1972).
Anos depois (por volta de 85 – oitenta e cinco) o Engº Eugénio Lisboa foi convidado para exercer as funções de coordenador nomeado pelo Instituto de Livro e da Leitura de Portugal para editar uma obra monumental intitulada: “Dicionário Cronológico de Aurores Portugueses“.
Três volumes são da responsabilidade de direcção do Engº Eugénio Lisboa (que trabalhou com o seu Pai na Tribuna e na VM).
Três volumes são da responsabilidade de direcção de Ilídio José da Rocha (antigo colega directo de seu Pai nas lides da Tribuna antes do incidente que possibilitou a sua compra pelo Banco Nacional Ultramarino e posterior entrega à União Nacional).
Causa muita admiração ao leitor comum que ao folhear essa obra monumental – são seis volumes publicados - não haja uma simples referência a Gouvêa Lemos como escritor, jornalista, Homem de Letras de entre os mais de 4 300 (quatro mil e trezentos – sim…) autores portugueses que foram cadastrados.
De entre os cadastrados há -até - referências a portugueses das áreas literária e das Ciências Humanas.
E ali podem ser identificados nomes de outras individualidades que foram –também –apenas jornalistas.
E - caso ainda mais curioso - pode constatar-se (Volume V 1920/30):
O Engº Eugénio Lisboa espraia-se por cerca de duas paginas e meia; Rocha por cerca de duas e um quarto; A Nuno Bermudes é-lhe dedicada uma pagina; Fernando Couto (que aparece com o seu Pai sentado à mesa numa das fotos do blog) vem apresentado numa página e meia. E há mais por ler....e por descobrir…..
Zé Paulo: Dá para reflectir! A História tem de ser escrita com os Olhos Lavados!
Por isso o seu blog tem muito valor. Vamos continuando a lê-lo.
Parabenizo-o - uma vez mais – pela excelente iniciativa que teve em dar a conhecer a Memória de Gouvêa Lemos.
Votos de sucessos profissionais. Que a vossa Família fique bem!
Saudações amistosas.
Carlos Manuel
Moçambique

From: Jose Paulo Moreira de Carvalho Gouveia Lemos
To: Carlos Aragao ; ...@tvcabo.co.mz
Sent: Thursday, May 19, 2011 4:08 AM
Subject: Re: Blog dedicado a Gouvêa Lemos
Caro Carlos,
Fiquei um tanto zonzo com a surpresa do seu e.mail, em especial pela qualidade da "biografia" cronológica do Pai. Conheço poucas pessoas que conheçam a história, e na história que está inserido, do GL jornalista como voce aqui apresenta, necessitando muito poucos ajustes ou informações agregadas.
Mais surpreendente fica por me aperceber que quando o Pai morreu voce ainda era um jovem e ainda assim o GL lhe tocou de alguma forma ao ponto de buscar informar-se sobre a caminhada dele.
Talvez a classificação de Luso-Moçambicano não seja assim tão forçada. Digo isso porque creio que a importância do seu papel no jornalismo seja tão grande na imprensa moçambicana como da portuguesa, até pela própria condição de Província Ultramarina e que tinha também em relação à Metrópole uma postura de jornalismo de vanguarda. Sobre essa dificuldade de o definir uma coisa ou outra, lembro-me agora de uma passagem quando alguém lhe perguntou:
- Afinal, voce se considera português ou moçambicano?
A resposta veio rápida:
- Quero que se lixe! Sou um jornalista honesto!
Sobre o blog que criei, talvez haja de fato algo de modéstia familiar por falha na execução de uma estratégia de buscar a maior imparcialidade possível. A ideia foi sempre falar o mínimo sobre ele e sim apresentar a sua visão do mundo e do que terceiros pensavam, ou pensam, dele.
O não falar sobre o fim do sonho da "A Tribuna" está mais ligado ao não dar um tom de conflito, ou de posição de vitima, visto por um filho, entre o Pai e o maior investidor financeiro do projeto. Voce está certo quando diz que o sonho começou a nascer entre o intelectuais quando se refere ter sido nas dependências da Livraria e Discoteca do Reis. Sobre o desligamento do GL da "A Tribuna", não tenho em memória exatamente o que se passou, mas é verdade que está vinculada a ligações que o Reis já fazia com o BNU sem que houvesse deixado a equipe sintonizada sobre o que viria acontecer depois. É claro que o Reis também estava sobre pressão que sabemos que o sistema tão bem sabia fazer. É também um fato que o Pai nos poucos meses que lá trabalhou, muito pouco recebeu de salários pois como se dizia na época os últimos a receber os seus proventos eram os chefes. Por isso, pode concluir, que as dificuldades financeiras lá em casa já eram pesadíssima antes mesmo do fim do seu capítulo de uma caminho alternativo e mais independente no jornalismo moçambicano e português, que foi a "A Tribuna" para equipe que fez parte da fundação deste histórico jornal.
Sobre o nome "A Tribuna", penso que possa ter havido uma certa influência do Pai pois o estágio que o mesmo fez no Brasil, na década de 50, foi na "A Tribuna" no Rio de Janeiro, do Carlos Lacerda.
Devo concordar que ao blog falta esta descrição da cronologia do Gouvêa Lemos. Voce me deu uma idéia e preciso avaliar como fazer isso bem, embora já me passe um possível formato de como o fazer.
Me conte um pouco de si. O que faz em Moçambique? O por que desse interesse sobre o GL? Quem foi de fato o seu pai? Em que cidade estiveram mais tempo nos tempo da outra mãe? Teve, ou tem, pessoas da família ligadas ao jornalismo ou literatura de Moçambique? Voce é ligado, pofissionalmente, à imprensa, ou é um curioso sobre o tema?
Qual é a sua interpretação para que na obra “Dicionário Cronológico de Autores Portugueses“ o nome Gouvêa Lemos não seja lembrado? Ainda mais tendo na coordenação duas pessoas tão ligadas à história dele?
Desculpe o questionário, mas fiquei curioso com o perfil de quem me mostrou um grande respeito pelo GL, o que claro me deixou bastante emocionado.
Os meus mais respeitosos cumprimentos e obrigado pelo presente que me ofereceu hoje.
Zé Paulo
PS: A carta vai sem correção. As gralhas vá deixando de lado.


Um comentário:

  1. Obrigada por tanta informação que nos deu!
    O meu Pai jamais se intitulou intelectual, mas sim um grupo que lutava pela justiça para com um povo!
    Ensinou nos como Pai, a modéstia, a sobriedade, a honestidade.
    Jamais usaríamos o nome do Pai, como escudo nas nossas vidas, mas sim pessoas que lutam por princípios que ele nos encaminhou, como Pai extremoso que sempre foi. Sim porque ele não era para nos filhos, o jornalista, mas sim o nosso Pai,como toda a gente tem.
    Nunca se usou o nome dele para nada nas nossas vidas a não ser o que ele e a nossa Mãe nos encaminharam para seguirmos as nossas próprias vidas!
    Claro e que para mim e penso que para os meus irmãos tivemos a sorte de sermos filhos de um casal que sempre olhou para os mais necessitados, sem bandeirices!
    Fico feliz de ver, ler e ouvir que houve e há pessoas que o elogiam como um jornalista honesto.
    Um abraço de mais uma filha desse homem que aqui referencia que foi meu Pai,
    Maria Madalena Moreira de Carvalho de Gouvea Lemos

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