Em 22 de Novembro de 1963, John Kennedy foi assassinado, em Dallas, quando começava a preparar a sua campanha para a reeleição como Presidente dos Estados Unidos. Houve quem não quisesse que isso acontecesse e interromperam a vida de um grande líder mundial.
No dia 08 de Dezembro desse mesmo ano, Gouvêa Lemos escreve um artigo em formato de carta para a viúva Jacqueline, para a encorajar ao enaltecer os valores do seu recém falecido marido. Valores esses tão necessários em um Moçambique daqueles tempos coloniais. Valores raros em um estado ditatorial de direita.
Perdoe, Jacqueline, que lhe escreva numa linguagem nada
formal, este bilhete apressado, recado breve de irmão. Aliás, agora que saiu da
Casa Branca, Jacqueline, ainda com os olhos belos pisados mas dignamente
enxutos, sinto-a tão fraternal quanto brutalmente foi demitida do seu lugar de
Primeira Dama da América.
Não vou ainda dizer-lhe como sofri per si. Já sabe. Quem não
sofreu, meu Deus? Quem pôde não sofrer? Só gente que não é gente.
Vou antes felicitá-la pela morte, assim como foi, do seu
marido John Fitzgerald Kennedy. Felicitá-la, sim, Jackie; bem me entende.
Se a vida pública de seu marido foi útil e como Presidente do
seu país ele se esforçou, com firmeza e coragem, por fazer valer os direitos
civis de todos os americanos, não há hoje dúvida nenhuma de que o seu assassínio
pago pelo ódio da reação sublimou a luta em que morreu, realçou o ideal, foi a
cúpula harmoniosa dum grandioso panteão, sustentada por braços de homens redimidos.
Jacqueline: quem se dedica inteiramente à obra da Paz, quem
defende os humildes, proclama o primado do Direito, luta pela Liberdade, quem
aponta, em nome da Justiça, a sua espada às gargantas dos poderosos, quem isso
faz, minha Irmã, muito se arrisca e raro é não morrer em combate; somente
acontece que contínua combatendo para lá da morte; e quando o matam é ele quem
vence.
Devemos estar certos de que o seu valente John está neste
momento a ver, lá de cima, como valeu a pena; e aquele sorriso aberto e jovem
vai-Ihe pregueando o rosto e brilha no olhar, enquanto lhe pede que não chore a
morte do herói pois morreu gloriosamente.
Quanto a si, Jacqueline, bem sabe como nós vamos continuar a
ver na sua figura grácil a personificação do espírito que reinou até há pouco
nas salas da Casa Branca; um ar de optimimsmo, um halo de humanidade, um jeito
de compreensão, um toque de tolerância, um rictus de decisão, um olhar de fé.
Jacqueline Kennedy, o mundo vai continuar a estimá-la e a chamar-lhe Jackie. E
a nossa voz. feita de milhões de vozes, será parecida, aos seus ouvidos, com a
de John. Deus abençoe os seus filhos, Jackie.
GOUVÊA LEMOS
Ano
IV – No. 106 – 08 de Dezembro de 1963 – Página 11
Foi com alegria que gostei de voltar a ver movimento nesta página. Este artigo deve ter atiçado o mau humor de alguns colonialistas e racistas da época, principalmente na passagem; "...ele se esforçou, com firmeza e coragem, por fazer valer os direitos civis de todos os americanos, não há hoje dúvida nenhuma de que o seu assassínio pago pelo ódio da reação sublimou a luta em que morreu, realçou o ideal,..."
ResponderExcluirObrigado mano por revitalizares esta página e os valores claro na definição do significado da palavra cidadão.que ele sempre defendeu.
Preciso mesmo voltar a alimentar este espaço.com o pouco que ainda tenho de material.
ExcluirTambém imagino algumas figuras da época a lerem este artigo.
Abração.
Gostei muito de ler este artigo. Obrigada.
ResponderExcluirFico muito contente que tenha gostado.
ExcluirCumprimentos.