Hoje, dia 18 de Dezembro de 2013, Gouvêa Lemos faria 89 anos de idade. Sendo também tempos de Natal, reedito o editorial da Voz de Moçambique da semana de 21 de Dezembro de 1963, há exatos cinquenta anos atrás.
Um texto, intitulado de "O Natal de todos nós", que demonstra a coragem daqueles que naqueles tempos escreviam em meio e para uma sociedade onde uma grande parcela era o extrato de uma ditadura racista. Um texto limpo, sereno, mas que disfarçadamente - nem tanto - cutucava a ferida, fugindo ainda assim dos censuradores.
EDITORIAL
0 NATAL DE TODOS NÓS
0 Natal é
um facto histórico ocorrido há
1963 anos. De tal forma influenciou a vida humana esse nascimento dum Homem que
se chamou Jesus Cristo e os cristãos acreditam ser filho
de Deus e o próprio Deus humanizado,
que esse acontecimento ocorrido em modesto estábulo,
nos arredores duma cidade do Oriente Médio, se transformou não
só em causa duma religião,
em fonte duma doutrina, em origem dum novo ideário
moral e social, mas em símbolo
de todos os anseios da Humanidade, em degrau da sua escalada
para a perfeição, em bandeira do seu
progresso — mesmo para os não-cristãos.
Isso
tudo se resume e se comprova no facto de o Dia de Natal ser considerado, no
mundo inteiro, o Dia da Fraternidade Universal. O Natal faz os homens irmãos.
Param
as guerras, guardam-se as armas, esquecem-se
os ódios, porque é
Natal; suspende-se a corrida que leva a nenhures, no combate sem pausa por ser
mais rico havendo mais pobres, para um gesto de generosidade, porque é
Natal; recolhe-se a casa, reencontra-se a família,
identifica-se cada um com o ambiente que o cerca vivendo-o intensamente, porque
é
Natal.
E
isto acontece, independentemente de se acreditar ou não
em que Jesus Cristo
era Deus; só porque ele foi um Homem
que morreu pelos outros homens; só porque ele é o Herói dos heróis que se sacrificam no altar da
redenção
dos homens.
Ora,
em mais este Natal vivido em Moçambique, precisamente quando nos interrogam graves perguntas plantadas na linha
do horizonte, o Natal surge-nos como a revelação, a luz que ilumina o caminho, a resposta de todas as questões.
Se Cristo nasceu, viveu e veio a morrer por todos os homens; se veio pregar a
fraternidade, o amor e a paz entre todos os homens, se veio garantir que são igualmente filhos de Deus todos os homens; tendo,
cada um, a
mesma implícita
dignidade; se veio verberar os fariseus, que, por se julgarem melhores e superiores,
humilham e exploram os seus irmãos; se a legenda
do Natal é uma lição de humildade e se a mensagem de Cristo é de esperança,
devemos nós ter fé em que o futuro justificará a nossa esperança desde que
saibamos construir esse futuro sobre uma autêntica fraternidade e paz, não só
com a ordem mas principalmente com a justiça, reconhecendo em cada ser humano
um igual nosso, com as mesmas intrínsecas exigências e os mesmos naturais direitos.
Se, em resumo, conseguirmos
que, sempre, cada Natal que passa venha a ser o Natal de todos nós.
Ano IV – No. 101 – 21 de Dezembro de 1963 – Página 3
Ano IV – No. 101 – 21 de Dezembro de 1963 – Página 3
Uma voz sensível, com uma mensagem maravilhosa, por isso é que continua atual. Nem a Censura, nem o Tempo a pôde atenuar.
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