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terça-feira, 30 de outubro de 2012

REPETINDO UMAS COISAS ÓBVIAS - Pegue-se no futuro de Moçambique...


"1963 X 2012" ou "1963 = 2012"
Pegue-se no futuro de Moçambique, de que tanto devemos cuidar, e como quem olha um poliedro, miremos-lhe as faces, uma por uma: sempre havemos de constatar uma necessidade urgente e iniludível, a condicionar e a implicar-se em todas as outras necessidades e chama-se ela desenvolvimento económico.
Pense-se na promoção social das populações, de que vemos gentes de vários feitios ocupar-se por formas diversas e com intenções diferentes, e logo se sente que pouco ou nada poderá fazer-se, se essas populações não forem promovidas economicamente.
Fale-se em consciencialização política ou esclarecimento cívico dum povo, para o habilitar a exercer direitos consignados na lei, e imediatamente se vê que a quem se aplica não tem um nível económico exigido.
Lembre-se a instrução, indispensável ao homem moderno, urgindo sobretudo onde ela tem de começar pela alfabetização de milhões de pessoas, ao mesmo tempo que deve exercer-se também em graus superiores, para constituição de elites intelectuais e formação profissional, e logo nos assustaremos de pensar o que haverá de ser ocupação adequada de quantos forem saindo das escolas, dos institutos, dos liceus, das faculdades universitárias, se um vasto programa de instrução não for acompanhado, apoiado e justificado por um surto simultâneo de desenvolvimento económico.
Veja-se como será inválida qualquer actividade séria no campo da saúde e da higiene, se a massa populacional sobre a qual se exerce não tiver possibilidade de elevar o grau da sua saúde colectiva, se não conseguir apurar os seus hábitos de higiene, se não tiver meios materiais e não dispuser de processos técnicos que lhe assegurem um estado aceitável de sanidade, se, em suma, a sua situação económica não lhe permitir praticar as teorias, dar continuidade às práticas e efectivar os seus resultados.
Repare-se em como será inviável a elevação espiritual de quem não tenha da vida uma concepção diferente da que lhe dá a preocupação da sobrevivência.
Ora, estas coisas tão simples como todas as de bom senso preocupam., afinal, quantos sejam conscientes e se encontrem em Moçambique e fazem que ninguém de boa fé possa admitir a fuga às obrigações que tais realidades impõem.
Moçambique tem no seu território enormes capacidades de riqueza, umas conhecidas e muitas apenas adivinhadas, mas sabendo-se de todas que são mais que suficientes para dar aos seis milhões e meio que aqui vivem e aos mais que vierem a viver excelentes condições económicas. Esse potencial tem de ser utilizado. Vai ser utilizado. Se não se fundasse nesta determinação, nenhuma política se justificaria.
O remédio de todos os males não está no processo simplista de aumentar salários; o que se impõe é o aumento da produção, a criação de riqueza, para se enfrentarem então os problemas da sua melhor distribuição, seja através de salários, seja na participação de lucros, seja pelo sistema que o povo escolher.
O que tem de haver é aquela certeza acima referida, generalizada e por todos vivida, de que o homem de Moçambique usará a riqueza que Moçambique oferece, parecendo-me, por isso, inoportunos certos rumores de pessimismo, que se manifestam até para condenar iniciativas daqueles que acreditam no futuro desta sua terra, baseando-se os velhos do Restelo em que os tempos vão muito maus.
Se os tempos vão muito maus, terão de vir a ser bons, mesmo contra a vontade de alguns.

[A Voz de Moçambique, Lourenço Marques, ano IV, nº 96, 28 de Setembro de 1963, p. 10]

2 comentários:

  1. José Maximiano Moreira de Carvalho30 de outubro de 2012 às 07:21

    Era esta visão muito acertada de quem foi um grande jornalista e que tão bem conhecia e defendia os interesses de Moçambique e do seu povo.

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  2. Penso que se ele escrevesse esse texto hoje, não mudaria muito a escrita, nem nos pontos abordados.
    Um Homem de visão, por outros taxados talvez de utópico, mostra o quão óbvio e visionário ele foi. Pena é que o que é óbvio, nem sempre é visto por quem tem o poder de priorizar na governação.
    Que a geração futura, não herde a mesma apatia e nem repita os mesmos erros das gerações passadas. E aposente a geração que se um dia foi vital gazela, hoje se transformou em anafado hipopótamo.
    Dizem as más línguas da juventude, sempre irreverente em qualquer parte do mundo, que na verdade eles são mesmo é crocodilos; "boca grande e perna curta"

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