Eis que nesta Lourenço Marques tão garrida
apesar dos pesares, remirando-se na baía nem sempre espelhada do Espírito
Santo, encanudando e frisando os polanas e os somerchildes e escondendo os
caniços, pupulam cada vez mais pululantes os pseudos.
É encantadora, chega a ser comovente a
desfaçatez com que actuam livremente, muito livremente aliás, com uma liberdade
só deles, certos pseudo-intelectuais, sem um mínimo de dignidade intelectual,
que são pseudo-jornalistas, fazendo dos jornais postigos de delação, que são
pseudo-escritores, escrevendo sandices com citações mal digeridas à mistura,
que são pseudo-patriotas batendo-se por que se espete com a Pátria num
atoleiro. São até, nas horas vagas, anti-racistas, generosamente,
magnânimamente, como seres superiores que se julgam, detentores do direito a
tais abdicações, mas quando se lhes mostra que mesmo nessa pseudo-generosidade
paternal há racismo, os pseudo-humanistas enfurecem-se e gritam. E, em
situações taís, pode acontecer que peçam uma balança para pesar encéfalos ou
uma guilhotina para cortar cabeças, invocando Darwin em latim mal copiado ou
Fidel Castro em português sem gramática. Isto é, quem for de cor diferente leva
poucos miolos, quem for de opinião diferente fica sem miolos nenhuns. Mas não
são maus homens, os pseudos. Até dão esmola aos sábados.
Oh! como andam activos, os pseudos!
Vem um, e de pera em punhal, ameaça com
«el paredon» em estilo cubano os colegas e os «grupinhos» (os «grupinhos» são
as suas varizes) da «Imprensa contra a Nação». Mal da Nação se a «Imprensa pela
Nação» fosse a que ele abrilhanta.
Vem outro, e - tem graça! - também de pera
em naifa, ruge impropérios contra quem chama traidores e antipatriotas (pobre
da pátria que o pôs, se não fosse melhor servida!), sugere o fechamento de
jornais, talvez porque se negaram à sua prosa que não escolhe poiso e
esquecendo na precipitação polémica que, até porque isto de políticas é, como
ele bem sabe, coisa sujeita a grandes contingências e reviravoltas, sempre será
melhor haver mais jornais que menos, não só para os jornalistas mas até para os
pseudos.
Oh!, senhores! como eles andam mausões!...
O pior é que - e só por isso eu dedico
estas linhas aos pseudos - eles berram, barafustam, gesticulam e esbravejam e
devem cada vez mais considerar-se certos e infalíveis, perante o silêncio de
quem não quer e não pode, pô-los nus na praça pública, revelando-lhes a
estatura e as mazelas.
Acabavam-se os pseudos. Calavam-se os
activos, desiludiam-se os passivos, divertia-se a multidção, era uma santa
higiene.
[A
Voz de Moçambique, Lourenço Marques, ano IV, nº 77, 18 de Maio de 1963, p. 12 e
11]
Nenhum comentário:
Postar um comentário