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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

OS PSEUDOS



Eis que nesta Lourenço Marques tão garrida apesar dos pesares, remirando-se na baía nem sempre espelhada do Espírito Santo, encanudando e frisando os polanas e os somerchildes e escondendo os caniços, pupulam cada vez mais pululantes os pseudos.
É encantadora, chega a ser comovente a desfaçatez com que actuam livremente, muito livremente aliás, com uma liberdade só deles, certos pseudo-intelectuais, sem um mínimo de dignidade intelectual, que são pseudo-jornalistas, fazendo dos jornais postigos de delação, que são pseudo-escritores, escrevendo sandices com citações mal digeridas à mistura, que são pseudo-patriotas batendo-se por que se espete com a Pátria num atoleiro. São até, nas horas vagas, anti-racistas, generosamente, magnânimamente, como seres superiores que se julgam, detentores do direito a tais abdicações, mas quando se lhes mostra que mesmo nessa pseudo-generosidade paternal há racismo, os pseudo-humanistas enfurecem-se e gritam. E, em situações taís, pode acontecer que peçam uma balança para pesar encéfalos ou uma guilhotina para cortar cabeças, invocando Darwin em latim mal copiado ou Fidel Castro em português sem gramática. Isto é, quem for de cor diferente leva poucos miolos, quem for de opinião diferente fica sem miolos nenhuns. Mas não são maus homens, os pseudos. Até dão esmola aos sábados.
Oh! como andam activos, os pseudos!
Vem um, e de pera em punhal, ameaça com «el paredon» em estilo cubano os colegas e os «grupinhos» (os «grupinhos» são as suas varizes) da «Imprensa contra a Nação». Mal da Nação se a «Imprensa pela Nação» fosse a que ele abrilhanta.
Vem outro, e - tem graça! - também de pera em naifa, ruge impropérios contra quem chama traidores e antipatriotas (pobre da pátria que o pôs, se não fosse melhor servida!), sugere o fechamento de jornais, talvez porque se negaram à sua prosa que não escolhe poiso e esquecendo na precipitação polémica que, até porque isto de políticas é, como ele bem sabe, coisa sujeita a grandes contingências e reviravoltas, sempre será melhor haver mais jornais que menos, não só para os jornalistas mas até para os pseudos.
Oh!, senhores! como eles andam mausões!...
O pior é que - e só por isso eu dedico estas linhas aos pseudos - eles berram, barafustam, gesticulam e esbravejam e devem cada vez mais considerar-se certos e infalíveis, perante o silêncio de quem não quer e não pode, pô-los nus na praça pública, revelando-lhes a estatura e as mazelas.
Acabavam-se os pseudos. Calavam-se os activos, desiludiam-se os passivos, divertia-se a multidção, era uma santa higiene.

[A Voz de Moçambique, Lourenço Marques, ano IV, nº 77, 18 de Maio de 1963, p. 12 e 11]

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