Aí está uma idéia feliz, em
inaugurar-se a nova estação aérea de Lourenco Marques no dia 17 de Junho,
comemorando-se
a chegada ao Rio de Janeiro dum frágil hidravião mono-motor, sem rádio nem apoio marítimo, sem patrocínios poderosos nem publicidades
sensacionalistas.
Chamava-se o aparelho «Lusitânia»,
tripulavam - no um senhor piloto Sacadura Cabral e um senhor navegador Gago
Coutinho, sendo que este
último ia
a experimentar um sextante de sua invenção, com horizonte artificial,
que depois havia de ser usado por todos os navegantes.
Também foi uma idéia
brilhante, essa de chamar ao nosso campo de aviação o Aeroporto Gago Coutinho, homenageando o marinheiro e o
cientista, o incansável geógrafo que tanto
trabalhou em
Moçambique e do seu trabalho deixou
valiosos resultados ainda bem patentes, como se verifica facilmente nos Serviços Geográficos e Cadastrais, como confirmam, à uma, todos os topógrafos e agrimensores de Moçambique. Além disso, Gago Coutinho
sempre ficou ligado a esta tetra pelo
sentimento da saudade e a sua pele rugosa de velhinho nunca mais se libertou da lembrança
doce das brisas do Índico.
Vendo bem, Gago Coutinho
foi, dos portugueses contemporâneos, a figura melhor representativa das mais
positivas qualidades do espírito luso — já se pensou nisso?
Ele era
destemido e sábio, trabalhador e generoso, abnegado
e tolerante, sedento de universo, faminto de humanidade, realizando o mundo
português num plano tão acima da
política e
dos negócios, que nunca se apercebeu, por
exemplo, de que
o Brasil era um país independente. Fronteiras,
onde estavam elas?/ O Atlântico? ... Mas não era
seu, o Atlântico? Não o galgara ele? Não o continuara a vencer, tantas e tantas
vezes, por ar ou pela superfície, quase até morrer? A língua?... Mas era a mesma,
senhores! Os amigos, os admiradores, os colegas, os discípulos? Ora, onde os teria ele mais
numerosos? No Rio de Janeiro ou em Lisboa?
Dir-se-á, em Lisboa, que Gago Coutinho era muito lisboeta. Pode dizer-se, no Rio, que era muito carioca. Então?
Onde fica a pátria do Almirante?
Felicíssima
idéia, essa de darem o nome de Gago Coutinho ao aeroporto de Lourenço Marques. Um velhinho que ilustrou na Terra a promessa do Evangelho: os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os
últimos. Morreu famoso e ficou célebre, ainda que vivesse humilhando-se e
procurando apagar-se. Podia ter sido um dos notáveis da época, um presidente do conselho de administração. um deputado ou coisa assim, podia ter sido, enfim, tanta
coisa, e ficou só oficial de marinha
reformado. Mas cidadão do mundo, é verdade: transeunte enternecido
de oceanos; português com pureza, porque despido de idéias de domínio, lavado de dividendos.
Ele encarnava, sem dúvida, o espirito lusitano. O autêntico. O que
pode subsistir, porque transcende
as contingências históricas.
Agora, que inauguraram a bela estação aérea de Lourenço Marques no dia em que passava o 41.0 aniversário
da travessia do Atlântico Sul em
avião e que lhe deram o nome de Gago
Coutinho, só falta uma coisa para
completar a homenagem justa e,
até, o
conjunto
arquitectónico da aerogare: a estátua do Almirante, em
frente do edifício. Estou a lembrar-me dum enorme Leonardo da Vinci,
que se ergue em frente do moderno aeroporto de Fiumicino, em Roma. E, embora me tenha
habituado a
antipatizar com estátuas, bustos e lápides, neste caso, sou pela estátua.
[A
Voz de Moçambique, Lourenço Marques, ano IV, nº 96, 29 de Junho de 1963, p. 12]
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsta foto traz lembranças boas e más, no tempo histórico de Moçambique, em que está inserida.
ResponderExcluirSó que na ditadura daquela época, que tinha tanta coisa pior que na governação atual, os turistas ainda podiam tirar fotos de lugares públicos.
Hoje ao se desembarcar num aeroporto moçambicano e se não for rápido no clicar, terá logo um policial pela frente colocando rudemente o dedo no nosso nariz dizendo; "é proibido tirar foto!"
Se ele for "tolerante" você salva as fotos pagando um "refresco porque está muito calor pá!"
Confesso que fiquei surpreso com tais rudes modos, pois já fotografei a ONU em Genebra, Buckingham Palace, a casa do primeiro ministro inglês (com um policial desarmado sorrindo na foto), vários aeroportos mundo afora, etc, etc E ninguém me pôs o dedo no nariz.
Será que isso ainda é ranço da ditadura pós-independência? Ou será que confundem o click da máquina com o click do engatilhar uma arma?
A segurança pública moçambicana e as diversas secretarias de turismo regionais, não pode continuar comportando como analfabetos. Nunca ouviram falar em google earth?
Qualquer cidadão fora da China e Irão, e outras ditaduras paradas no tempo, tem acesso a esse programa gratuitamente. Com ele se pode ver até o penico esquecido em qualquer jardim caseiro de Moçambique ou qualquer parte do mundo.
E que eu saiba, até hoje ninguém bombardeou o penico de nenhum neto de político moçambicano!
Então senhores políticos, vamos parar com essa Putinice! (palavra oriunda de Putin. O Pseudo-Democrata)
Vamos deixar os turistas em paz, e fomentar uma nova renda legal de impostos para as finanças do país.
Corrupção também se combate ao se abdicar de leis estúpidas que só servem de fonte de renda para os corruptos.
Nem mais , "curto e grosso " , tá tudo dito :-)
ExcluirT
Passei por essa experiência de ao primeiro clik, no saguão do aeroporto de Maputo, me aparecerem 3 policias, aparentemente vindo cada um de um ponto diferente, e em tom ameaçador me dizerem que não podia fotografar ali.Ainda assim fiquei com o registro, pois não me pediram para deletar a imagem
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