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sábado, 31 de outubro de 2009

PATRIOTEIRISMO

A consciência plena da nacionalidade que se tem, o orgulho inteligente de a ter, fundamentados ambos no verdadeiro conhecimento da História e na apreciação imparcial das realidades actuais; mais a preocupação sincera pelo futuro da Nação de que se é membro, com o desejo de colaborar na elevação do seu nível econômico, social e espiritual - tudo fundido na forma de uma personalidade vincada, que leva a guardar ciosamente o direito de ter opinião e participação no que é nacional e tudo realçado pelo amor à terra que é a nossa, a dos nossos antepassados e a dos nossos filhos e pela veneração das memórias daqueles que se ilustraram, de qualquer modo, ao serviço da Nação e ainda pelo respeito daqueles que abnegadamente a servem hoje - tudo isso se chama patriotismo.
É um sentimento antigo, cuja origem se perde nos séculos e tem raízes na própria natureza humana.
Não foi criada recentemente e não se manifesta por gritos, melindres histéricos, escrúpulos despropositados e receios de invasão por forças estrangeiras através de manifestações ligeiras e divertidas, de actividades inconsequentes e de factos, frases ou escritos sem qualquer significado especial.
Aí começa outro fenómeno e esse não tem nada a ver com o cérebro nem com o coração. Só terá a ver alguma coisa com o cérebro, em certos casos e isso mesmo, se considerarmos a esperteza uma qualidade intelectual. De resto, explica-se pela ignorância, pela estupidez ou pelo desequilibro nervoso. É o patrioteirismo.
Encontra-se muito nos sujeitos que se arvoram - eles próprios - em pais da Pátria e que se sentem no dever de se ofenderem - por ele e pelos que julgam indiferentes - como tudo quanto se esforçam por considerar grave e não tem gravidade nenhuma. Indignam-se e pespegam lições de portuguesismo, sem cuidarem primeiro de saber se quem as recebe delas precisa ou as pode ministrar. Falam sempre na primeira pessoa. Porque eu, na minha qualidade de português, jamais consenti, não consinto nem hei-de consentir que, diante de mim, etc. e tal.
Há também os que se afligem, no seu portuguesismo de alfarrábio, porque se comparam em certos campos, realizações estrangeiras ou conquistas de outros povos, como o que nós fazemos, com o que nós temos. E não curam de explicar ou de justificar as diferenças, nem dão tempo a que o outro faça tal. Enfurecem-se patrioteiramente e, envergando a armadura, enfiando o elmo e de lança em riste, acometem o mouro, berrando sandices.
O patrioteiro - da família das sensitivas - dá-se muito bem em climas quentes.

[Notícias da Tarde, Lourenço Marques, ano VI, nº. 1705, em 27 de Dezembro de 1957, p. 1 e 5 na Col. Mesa Redonda.]

19 comentários:

  1. José Teixeira
    Excelente. De pertinência. E de ironia. Obrigado pelo aviso à leitura
    qui. às 22:25 · Excluir

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  2. Inez Andrade Paes
    Obrigada.
    Ontem às 07:44 · Excluir

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  3. Pureza Silva
    É um ótimo texto e, como diz o José Teixeira, pertinente... Interessante essas diferentes leituras para patriotismo/patrioteirismo. São épocas diferentes mas continuamos cercados de patrioteiristas
    Ontem às 08:02 · Excluir

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  4. Luis Lemos
    Obrigado Zé Paulo.
    Ontem às 08:55 · Excluir

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  5. Gigi Guerreiro
    Incrivel....este assunto de a 50 anos para ca ainda muito actual!
    Ontem às 09:07 · Excluir

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  6. Gabao Jaime
    Em 1957 era eu "puto" e inocente :)))
    E acabara de chegar a Moçambique.
    Queria lá saber dessas coisas... Só pensava em ir buscar maçanicas e mangas verdes, pulando o muro do quintal da Inez Paes e dos outros vizinhos...
    De repente leio e revejo, nestes novos tempos, uma referência chamada António Gouveia Lemos, entre outras saudosas referências que já partiram ...
    E sinto que jamais perdemos nosso tempo.... Saiba mais
    Obrigado Amigão!
    Ontem às 10:42 · Excluir

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  7. José Teixeira
    Com efeito o assunto está actual, sempre. Mas o que ainda me impressiona mais é não só a actualidade temática do texto mas a sua frescura, a sua forma argumentativa: podia mesmo ter sido escrito hoje.
    Ontem às 10:44 · Excluir

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  8. Gigi Guerreiro
    Tens razao JT...podia mesmo ter sido escrito hoje!
    Ontem às 11:18 · Excluir

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  9. José Paulo Gouvêa Lemos
    Fico contente que tenham gostado. Comentar algo mais pode ficar piegas, mas não me contenho em dizer que o GL estava à frente do seu tempo.
    Zé Paulo
    Ontem às 13:44 · Excluir

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  10. Luis Lemos
    Nao vou por aí Zé Paulo. Naquele tempo já se questionava e havia gente com coluna vertebral, como é prova disso o teu pai, o Ricardo Rangel, o Craveirinha, a Noémia de Sousa e muitos outros. Felizmente que há gente deste calibre em todas as épocas. Lamento apenas que o Antonio Gouveia Lemos seja tão pouco referenciado em Moçambique e Portugal. Cruzei-me com ele no bairro da Coop pouco antes de vocês partirem para o brasil (em casa do Luis Sarmento, mais concretamente). Eu era um puto de 15 anos e marcou-me muito a sua clarividencia e verticalidade. Mais a mais porque via aquela casa como um lar de gente boa e generosa, mas conservadora. Foi uma lufada de ar fresco que me fez despertar e começar a questionar o mundo que me rodeava.
    Ontem às 14:09 · Excluir

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  11. José Paulo Gouvêa Lemos
    Luis,
    Penso que me fiz entender mal. Não acredito que o GL era o único que estava à frente do seu tempo. Com toda a certeza, havia mais gente nesse barco. Ainda assim eram uma minoria, e por isso eu acreditar que estavam à frente do seu tempo.
    Dou a chance para nomeares mais alguns e no fim me dirás quantos eram, e se estavam acima da média.

    O Luis Sarmento era ainda primo em segundo ou terceiro grau do Pai, e padrinho do meu irmão. Eram sim super conservadores mas muito boa gente, como aqui definiste. Nessa altura que tu cruzaste com o Pai, lá na casa dos Sarmentos, estava eu e o meu irmão a passar um tempo em casa deles, no PH2, antes de viajarmos ao Brasil. O Pai e a Mãe estavam no PH4, em casa dos meus tios, hoje meus sogros (O Tio já faleceu).... Saiba mais
    Grande abraço,
    Zé Paulo
    Ontem às 15:10 · Excluir

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  12. Luis Lemos
    Percebi bem, o que eu prefiro dizer é que os outros é que já estao fora de época he he. Na verdade apenas quis aproveitar a oportunidade para render uma singela homenagem ao teu pai. Apareceu como um cometa, mas contribui muito para a minha tomada de consciencia. Recordo-me até de ter começado a questionar o facto dos empregados domesticos só poderem utilizar o elevador de carga... Eu vivia no PH2 e era vizinho dos Sarmentos e tambem convivia com todos os teus primos, incluindo a tua cara metade e a Tantas, embora fossem bem mais novas.
    Um abraço
    Ontem às 15:42 · Excluir

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  13. José Paulo Gouvêa Lemos
    OK! Não fui tão longe. rssss...

    Sobre seres o Luis, que nos encontramos por estas vias da internet há algum tempo atrás, quando fiz o convite para seres um dos no meu album de fotos 3 X 4, tinha alguma duvida se eras o amigo do Catatau, Zé Colmeia, da Kikas e Tantas e de outros M.C. de LM.
    Havia perdido o teu contato... depois, no andar da carruagem, aqui no "Face", comecei a acreditar que eras mesmo tu.
    Abraço,
    Zé Paulo
    Ontem às 16:30 · Excluir

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  14. Luis Lemos
    A vantagem destas novas autoestradas é estamos sempre a cruzar-nos uns com os outros... Como sabes, aquele bairro tinha umas caracteristicas muito especiais, não era fácil expormos o que pensávamos. Eu já não era muito bem visto por falar Changana... Apenas dois ou três permaneceram em Moçambique e naquele bairro e à maioria perdi o rasto. Foi por ti que soube da familia Perdigão, das boas e más noticias... Sabes que o Luis Sarmento filho regressou a Moçambique uns anos mais tarde e retomamos o convivio, mas, em 1994, a caminho de Joburg ou a regressar de lá, morreu num acidente de viação.
    Ontem às 16:46 · Excluir

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  15. José Paulo Gouvêa LemosA internet, quando bem usada, é realmente o que há de melhor nas relações, com encontros e desencontros e rapidamente reencontros, além de outras inúmeras vantagens.

    Xiiii...Coop?! Filho de patrão era filho de patrão... a tal faixa da classe média abobada se estabelcia muito por ali...mas claro que com muita gente fora da faixa em questão.

    Sobre o Luís Sarmento, soube da morte dele. Em puto, gostava muito desse meu "primo". Lidava conosco, comigo e com o meu irmão, como se fossemos da idade dele quando havia uma enorme diferença. Isso para um miúdo dava uma força grande, sentiamo-nos "os putos " ! rsss...
    Ontem às 19:01 · Excluir

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  16. José Teixeira
    Espero que sem ser considerado abusador "roubei" o texto e bloguei-o. Cumprimentos e obrigado
    Ontem às 23:35 · Excluir

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  17. José Paulo Gouvêa Lemos
    Promover o nome do GL é honra-lo, nunca um abuso.
    Obrigado.
    Zé Paulo
    há 6 horas · Excluir

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  18. Guardei o texto. Estes escritos merecem ficar no bau de boas recordacoes.
    Que ele sirva de referencia aos novos escribas, alguns dos quais, perfeitos bajuladores do sistema.
    Um abraco Ze Paulo.

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    Respostas
    1. Fico contente que o guardes em baú tão especial. Pensa em reedita-lo no "Correio da Manhã" para quem tenha a sua carapuça que a enfie. :)
      Grande abraço.

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