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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Canção de Angónia

Visto a camisa lavada
e vou para o contrato.
 
Quem de nós,
quem de nós irá voltar?
 
Vinte e quatro luas,
sem ver as mulheres,
sem ver a minha terra,
sem ver o meu boi.
 
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
 
Visto a camisa lavada
e vou para o contrato,
trabalhar lá longe.
Vou para além da montanha,
para lá do mato,
onde some o rio.
 
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
 
Veste a camisa lavada,
é hora de ir ao contrato.
Entra, irmão, no vagão,
vamos andar noite e dia.
 
Quem de nós.
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
quem de nós irá morrer?
 
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar
e ver as mulheres,
e ver nossas terras
e ver nossos bois?
 
Quem de nós irá morrer?
Quem de nós?
Quem de nós?
 
 
*Poesia de Gouvêa Lemos, escrita na década de 60 de Moçambique colônia.

Um comentário:

  1. No mundo de hoje, onde as ondas de imigrações ao redor do mundo, este poema continua mais atual do que nunca.
    Seja da Africa, Oriente Médio, Asia ou América Latina, os "exilados" abandonam as suas pátrias e famílias, na sua maioria por motivos económicos. Sujeitando-se muitas vezes a serem explorados como escravos modernos - muitas vezes até por seus próprios "patrícios", já à mais tempo estabelecidos nos países receptores. Como foi visto recentemente na Itália e Espanha, onde asiáticos exploravam os seus irmãos em fábricas de roupa ilegalmente. O fim da linha de uma longa marcha de Esperança, é a escravatura em tempos modernos. A Angónia de hoje.
    Antonio Maria G.Lemos

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