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segunda-feira, 1 de março de 2010

Como vi e senti Moçambique

Gouvêa Lemos passou uma temporada de quase 2 anos, entre 1955 e 1956, no Brasil. Veio aqui buscar um estágio no jornalismo brasileiro e o fez no jornal carioca "Tribuna" de Carlos Lacerda.
Escreveu uma bela crónica sobre os prazeres turísticos de Moçambique. Sem ter nela nenhum tom politico, critico, que lhe passou a marcar a sua personalidade jornlistica quando voltou a Moçambique, realça o Parque da Gorongosa.
Esta crónica foi editada em um jornal da comunidade portuguesa no Brasil, "Mundo Português".
Zé Paulo



Como vi e senti Moçambique

Por Antonio Gouvêa Lemos em 15/05/56


Portugal é tido no mundo inteiro, justamente, como um paraíso de turismo. E eu quero fazer notar que essa convicção cada vêz mais generalizada, como resultado brilhante de uma ótima e honesta propaganda não deve cingir-se a Portugal na Europa, mas pode estender-se a Portugal em África Oriental Portuguêsa que eu conheço melhor, visto que por lá estive quase 7 anos.

Os encontros naturais daquêle extenso e portentoso território são um vigoroso atrativo para quem quiser recrear os olhos, travar conhecimento com panoramas diferentes, com aspectos exóticos e grandiosos.

As características especiais do continente africano determinam um turismo "sui generis", que se não é rodeado das condições ótimas de comodidade e repouso encontradas na Europa é, contudo aliciante e surpreendente.

A ressaltar, neste fundo de paisagens e costumes estranhos, que se oferece para vibração do temperamento de quem pratica a viagem pela viagem, surge, como grande motivo de umas férias em Moçambique, o prazer forte, a sensação violenta da caça, que ali tem perfeito ambiente.

Não vou usar como argumento publicitário as fitas de Tarzan e outras africanices igualmente hollywoodescas, as quais felizmente não foram ali situadas. Não, amigos, não confundam a ginástica com a magnésia! Sómente informo que em Moçambique, no seu distrito de Manica e Sofala, existe a maior reserva de caça do mundo.

A Reserva de Caça de Gorongosa, a qual se chega em poucas horas, indo da Beira de automóvel e em menos de 1 hora indo de avião, é anualmente visitada por milhares de pessoas. Ali apreciam de perto e no seu "habitat" a riquíssima e espetacular fauna do continente negro, numa aliança de quantidade e variedade que atinge o máximo existente.

Mas, valentes caçadores ou candidatos, naquêles quilômetros quadrados, que o Governo demarcou em plena selva, não se dá um tiro. Conservam-se as espécies, não se dizimam. Passeia-se de automóvel pelas picadas, em companhia de guardas que nos guiam e nos infundem a necessária confiança com a sua calma e conhecimentos dos hábitos e modos peculiares das feras, previnem acidentes e evitam sustos.

Ali se pode gozar um excitante fim-de-semana em alojamentos cômodos (e seguros, senhores citadinos inveterados...). Não é impossível que o célebre e magestático silêncio da noite africana, venha a ser cortado por um ou outro urro do soberano leão, que terá como mais temível consequência, fazer sentar o turista na sua cama fôfa, de um só pulo. .. O jeito é deitar de novo e procurar dormir.

Mas, quanto à caça-desporto a que nos vínhamos referindo, a Reserva da Gorongosa foi citada como prova da abundância de matéria prima por aquelas paragens. E o resto é fácil. Qualquer agência de turismo, em Lourenço Marques ou na Beira, providenciará o resto: caçadores profissionais, armas, transportes, etc.

Quando, em Setembro do ano passado, de lá parti, tinham chegado recentemente aquele magnifico pedaço de Portugal ultramarino, dois moços brasileiros que lá foram demandar com alvorôço os caminhos dêsse turismo, que hoje, tão ligeiramente apontamos. Soube-o numa casa de artigos desportivos onde eles tinham ido por armas e munições.

A idêia, portanto, não é nova. Esperemos que ela se expanda e se torne moda. Há uma carreira marítima direta. Há muitas, marítimas, aéreas, indiretas. Há bons hotéis nas duas cidades principais ; há caminhos de ferro, há carreiras aéreas, cobrindo todo o território e táxis-aéreos que nos vão pousar nos lugares mais remotos. E há, sobretudo, um povo admirável e portuguesíssimo; hospitaleiro, franco e gentil para os que chegam.

E tôdas as possíveis deficiências serão sempre (foram sempre) compensadas com vantagem por tal gente.

 
*Foto do site My Gorongosa

5 comentários:

  1. Saudades de tudo...dos cheiros de África, das manhãs com cacimbo, com o calor a apertar (na minha Zambézia) com o Rio ali aos pés, da solidariedade que se dá sem se perguntar nada...
    Gorongosa tantas vezes visitada...Beira, onde passava fárias todos os anos,alternando com Lourenço Marques onde estava o "grosso" da minha família...Que sorte tu tens em te sentires filho do planeta Terra... eu não, serei sempre moçambicada desenraízada por vontade de uns quantos...
    Beijocas
    Graça

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  2. meu tio ..... e na foto algures embaixo "irmaos pardal" o meu "velho"

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  3. meu tio ..... e na foto algures embaixo "irmaos pardal" o meu "velho"

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  4. Hilton, Parece que te encontraste por aqui. Que bom.
    Abraço forte.
    Zé Paulo

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  5. Olá, Graça!
    Se és moçambicana, és sim terraquea. ;-)
    Beijos.

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